domingo, 27 de outubro de 2013

Líquido Amniótico e ILA

Como prometido, um post sobre Liquido Amniótico, sua importância e algumas técnicas de como calcular.

O líquido amniótico tem grande importância no crescimento, no desenvolvimento e nas funções fetais, permitindo o deslizamento das partes fetais entre si e entre o feto e as membranas, favorecendo o desenvolvimento dos sistemas locomotor e respiratório, além de auxiliar na termorregulação fetal, prevenção da compressão do cordão umbilical e na proteção do feto contra traumas, como um amortecedor natural (Costa et al., 2005 e Kobayashi, 2005).
A cada hora, cerca de 3.600 ml de líquido amniótico são trocados entre a mãe e o feto, e essa troca depende do bem-estar fetal, da saúde materna e da placenta. O volume de líquido considerado normal varia de acordo com a idade gestacional, em torno de 250ml na 16ª semana, 800ml na 28ª semana, 1.000ml na 34ª semana e, após a 34ª semana, declina progressivamente, alcançando cerca de 800ml na 40ª semana de gestação (vide tabela abaixo). Vale lembrar que esses valores podem variar um pouco em cada mulher. (Costa et al., 2005).

Table 21-1. Typical Amnionic Fluid Volume
Weeks' Gestation
Fetus (g)
Placenta (g)
Amnionic Fluid (mL)
Percent Fluid
16
100
100
200
50
28
1000
200
1000
45
36
2500
400
900
24
40
3300
500
800
17
From Queenan (1991), with permission.


O volume do líquido também se relaciona com o peso fetal e placentário. Os fetos pequenos para a idade gestacional (PIG) geralmente apresentam redução do líquido amniótico, enquanto os grandes para a idade gestacional (GIG) geralmente apresentam volumes aumentados. Em casos onde as membranas estão intactas (não "estourou" a bolsa), o oligodrâmnio (pouco liquido) pode indicar algumas complicações em que o débito urinário do feto fique baixo, como má formações do sistema urinário fetal ou doenças relacionadas a insuficiência placentária, como o retardo de crescimento intra-uterino (RCIU), a hipertensão gestacional e a gravidez pós-termo. O polidrâmnio (muito líquido), por sua vez, também pode ser causado por vários distúrbios fetais e maternos, principalmente as malformações do trato gastrintestinal e o diabetes mellitus. (Costa et al., 2005).


Diagnóstico 


1. Métodos subjetivos:

-Verifica-se a Altura Uterina em associação com a idade gestacional e durante a ultrasonografia, dependendo da experiência do profissional. Em caso de polidrâmnio, há dificuldade na palpação e na ausculta dos batimentos cardíacos fetais.

2. Métodos semiquantitativos:
-Técnica da medida do maior bolsão vertical (MBV) Mede o maior bolsão vertical, livre de cordão e partes fetais, visualizado por meio da ultra-sonografia. Considera-se normal quando o maior bolsão mede entre 20 mm e 80 mm;



Retirado de COSTA, 2005 

- Índice do líquido amniótico (ILA) – Esse método utiliza a medida do maior bolsão vertical em cada um dos quatro quadrantes do útero. As medidas de cada bolsão devem estar livres de alças de cordão e partes fetais. Bolsões muito pequenos, menores de 5 mm, não devem ser medidos. A curva de normalidade de ILA para cada idade gestacional determina que o ILA maior que o percentil 95 indica polidrâmnio e menor que o percentil 5 indica oligoidrâmnio;

ÍNDICE DE LÍQUIDO AMNIÓTICO EM CENTÍMETROS 

- Técnica da medida bidimensional do maior bolsão (MBMB) – Esta técnica multiplica a medida do maior diâmetro vertical pelo maior diâmetro horizontal. O bolsão escolhido deve estar livre de alças de cordão e partes fetais. Os valores de normalidade são definidos entre 15,1 cm² e 50,0 cm.
Retirado de Kobayashi, 2005 

O valor clinico da ultra-sonografia não é estimar o valor absoluto de líquido amniótico, mas de identificar quais pacientes encontram-se fora dos valores de normalidade para a idade gestacional e no seguimento dessas pacientes (Kobayashi, 2005).

Condutas:
O tratamento para o oligoâmnio varia de acordo com a sua causa. Se a causa for má formação ou doença renal do feto, indica-se conduta invasiva em centros médicos especializados; em casos de diminuição da função placentária, o repouso é uma das terapias indicadas, antes de se indicar a indução do parto; Já na rotura prematura de membrana (a bolsa "estourar" antes da hora), indica-se repouso e ingestão de líquido em grande quantidade (3-4L por dia). É importante salientar que é necessário um maior acompanhamento para avaliar a condição do feto.
Para o polidrâmnio, é indicado o esvaziamento da bolsa, procedimento realizado intrahospitalar, no qual é realizado uma punção e retira-se o líquido aos poucos. Também pode-se associar terapia medicamentosa. (Ministério da Saúde, 2000)
Como já dito, alterações são comuns e variam em cada mulher e seus hábitos. O ideal é realizar o pré-natal adequadamente e pedir sempre informações para um profissional apto, pois diversos casos podem ser solucionados com ingestão de água ou retirada de líquido.



ÍNDICE DE LÍQUIDO AMNIÓTICO EM MILÍMETROS 



CUNNINGHAM, F. et all. Williams Obstetrics.23nd edition. .New York McGraw –Hill -Dark A Degenhardt W (2007)
COSTA, Fabrício da Silva; CUNHA, Sérgio Pereira da; BEREZOWSKI, Aderson Tadeu. Avaliação prospectiva do índice de líquido amniótico em gestações normais e complicadas. Radiol Bras, São Paulo , v. 38, n. 5, Sept. 2005
GILBERT, S.F. - Developmental Biology. 7ª edn. Sinauer Associates March, 2003
Ministério da Saúde, Gestação de Alto Risco / Secretaria de Políticas, Área Técnica da Saúde da Mulher. _ Brasília : Ministério da Saúde, 2000.
KOBAYASHI, Sergio. Avaliação ultra-sonográfica do volume do líquido amniótico.Radiol Bras, São Paulo , v. 38, n. 6, Dec. 2005 .MOORE, Keith L; PERSAUD, T. V. N. Embriologia clínica. 8ª. ed Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
SAWTER, T.W. – Langman: Medical Embryology. 11ª ed. Lippincott Williams & Wilkins, March , 2006