quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Nasceu! E agora, o que deixar (ou não) fazer com o bebê?

Você passa meses se preparando para o nascimento do bebê, lendo tudo sobre trabalho de parto e parto, se deparando com nomes estranhos como episiotomia, e descobrindo quais procedimentos você aceita ou não aceita na hora do parto. Depois de muita leitura e indecisões, enfim você chega ao seu plano de parto. E plano de parto envolve também o bebê. O que você deseja que aconteça com ele após o nascimento?
Os médicos particulares ou hospitais têm protocolos para toda a fase de nascimento, inclusive para o pós-parto. Os neonatologistas (médicos que cuidam do bebê desde o nascimento até cerca de 28 dias) , assim como os Obstetras, podem ter visões muito diferentes do processo de nascimento. Ou seja, podem ser intervencionistas ou humanizados. Quando conseguimos pagar pelo parto, podemos escolher os profissionais, e aí contratar alguém com os mesmo ideais que os nossos tornam as coisas um pouco menos preocupantes. Já quando vamos parir no SUS, somos recebidas por uma equipe de plantão, não escolhemos, porém tal equipe deve respeitar nossa autonomia e decisões (e, portanto, respeitar a lei). O que precisamos entender é que, assim como o parto, o filho é seu, e portanto você pode tomar algumas decisões sobre as condutas que serão feitas nele. Para ajudar nessa decisão, vamos entender duas clássicas intervenções feitas no bebê, que em muitos locais são de rotina:

Administração de vitamina K: Administração de vitamina K se dá oralmente ou por meio de injeção intramuscular, sendo esta última a via mais utilizada nos hospitais. A administração de vitamina K foi incluída na rotina dos serviços com o intuito de prevenir a doença hemorrágica do recém-nascido, caracterizada pela tendência ao sangramento. A justificativa é que os recém-nascidos teriam baixa quantidade de vitamina K no sangue, necessária para o processo de coagulação. Essa situação pode ocorrer quando a placenta não oferece a passagem adequada de gordura e, consequentemente, de vitamina K (lipossolúvel) para o bebê. Sabe-se que os bebês com maiores riscos de doença hemorrágica são aqueles que tiveram partos traumáticos, como com uso de fórceps ou cesárea de emergência, prematuros ou baixo peso ao nascer, filhos de mães que usaram anticonvulsivantes ou anticoagulantes na gestação. Devido a isso, a aplicação de vitamina K como rotina vem sendo questionada por cientistas e profissionais que acreditam que deva-se conhecer a história materna e oferecer um atendimento personalizado, baseado nas deficiências e necessidades de cada gestante, evitando intervenções desnecessárias.

Administração de nitrato de prata (Método Credê): É a aplicação de uma gota de solução de nitrato de prata a 1% nos olhos do bebê na primeira hora de vida (Figura), a fim de evitar a oftalmia (conjuntivite) neonatal gonocócia, causada pelo gonococo ou Neisseria gonorrhoeae. Essa bactéria pode ser transmitida da mãe para o bebê através do canal de parto, caso a mãe esteja infectada. O colírio arde o olho do recém-nascido, atrapalha a visão e dificulta a abertura ocular, interferindo a criação do vínculo entre mãe e bebê. Além disso, o nitrato de prata pode causar a chamada conjuntivite química, que ocorre em cerca de 20% dos bebês que receberam o medicamento. Para evitar a administração de nitrato de prata no seu bebê, solicite ao seu obstetra a cultura para gonorréia durante o pré-natal. Leve o resultado negativo ao seu pediatra e argumente com ele o uso do medicamento. Caso você tenha seu parto no SUS, leve o resultado e mostre ao pediatra de plantão.

Figura. Recém-nascido recebendo nitrato de prata a 1%.

Referências:
Wickham, S. Vitamin K - An alternative perspective. AIMS Journal, Summer 2001, Vol 13, No 2.
Prefeitura de São Paulo. Oftalmia neonatal e utilização de nitrato de prata colírio a 1% (Método de Credê).