domingo, 24 de novembro de 2013

Bolsa rompeu bebê nasceu... Será?

Nesses dois últimos meses ouvi diversos relatos de mulheres que tiveram cesarianas porque a bolsa tinha rompido há mais de x horas (6h no máximo). Inicialmente só fazia aquela cara de ué, mas não tentava explicar, afinal já tinha acontecido e o momento era o de aproveitar o bebê. Porém decidi conversar sobre isso com vocês, afinal, por mais que já tenha acontecido podemos nos empoderar para que no próximo esse mito não prevaleça novamente.
Fazendo uma breve revisão, o líquido amniótico tem diversas funções, sendo as principais: permitir a movimentação do bebê, proteger contra impactos e a integridade das membranas que envolvem o líquido garante a proteção contra infecções.
Há muito tempo a mídia tem colocado em filmes e novelas gestantes que estão quietinhas e do nada a bolsa rompe, escorre uma cachoeira de líquido e pronto, em poucos minutos o bebê está nos braços da mãe, porém na vida REAL essa cena é bem rara.
Fato é que este ocorrido não pode ser simplesmente ignorado, pelo contrário, a gestante deve estar sempre atenta à perda de líquido e se caso isto ocorrer deve entrar em contato com sua parteira ou se dirigir a um Hospital. 

Momento de rotura:
Entre 24 e 26 semanas: o bebê é incapaz de viver fora do útero e por isso a gestação é interrompida. 

De 26 até 34 semanas: a conduta é expectante, ou seja, apenas espera-se com orientação de tomar muita água e avaliação constante e do bem-estar fetal para a detecção precoce de infecção ou sofrimento fetal, caso exista algum destes sinais a gestação será interrompida com a realização do parto prematuramente. 

Após 34 semanas: a gestação deve ser finalizada com a resolução do parto.

Porém o grande questionamento é referente à: Devemos induzir o trabalho de parto? A cesárea é a melhor opção? Quanto tempo devemos esperar para que o início do trabalho de parto ocorra?
Alguns trabalhos científicos identificaram que a maioria das gestantes com mais de 37 semanas de gestação entram em trabalho de parto espontaneamente em até 12h de bolsa rota e que o risco de infecção para o bebê aumenta com 24h de bolsa rota. Porém este risco não pode ser avaliado isoladamente, existem fatores que podem minimizar este risco, por exemplo, mulheres com pesquisa de Strepto negativa têm um aumento de risco insignificante após 24h de bolsa rota.
Outra grande questão é o uso de antibiótico em casos de bolsa rota... Os protocolos mais recentes da Secretaria de Saúde de São Paulo afirmam que o uso de antibiótico não deve ser feito em todas as mulheres, mas apenas naqueles em que os resultados de Strepto forem positivos ou desconhecidos; porém em mulheres com Strepto negativo não há necessidade de realizar profilaxia intraparto mesmo diante de fatores de risco como: idade gestacional < 37 semanas, bolsa rota há mais de 18h ou temperatura materna acima de 38°C. 

Então o que devo fazer?
Se sua bolsa romper, antes de qualquer outra ação, mantenha a calma, anote a quantidade de líquido que escorreu, qual é a sua cor e o cheiro que o mesmo tem. No final da gestação é comum que as mulheres tenham uma lubrificação vaginal aumentada bem como corrimentos que não estão ligados a nenhum tipo de doença, além de poder apresentar pequena incontinência urinária o que leva muitas vezes a confundir tudo isso com a possível perda de líquido. Então vai a dica: o líquido amniótico em estado normal é claro e com um cheiro muito parecido ao de água sanitária.
Se estiver sendo acompanhada por um profissional específico, informe-o sobre o ocorrido para que possa fazer a monitorização do feto. Não permita que sejam realizados toques repetidos para a avaliação da dilatação (este sim pode aumentar muito o risco de infecção). Beba muita água, o líquido tem capacidade de se repor rapidamente após a ingestão hídrica. E por fim, não tenha relações sexuais.
A decisão de ir ou não para o hospital deve ser avaliada pela mulher e se caso ela esteja sendo acompanhada por um profissional específico, orientada pelo mesmo. Todos os riscos devem ser avaliados, lembrando que a ANVISA alerta sobre os seguintes fatores de risco para infecção em recém-nascidos (RN):
- Peso ao nascer, quanto menor o peso do bebê maior é o risco de infecção hospitalar.
- Defesa imunológica diminuída, quanto mais prematuro menor é a imunidade do RN.
- Necessidades de procedimentos invasivos ex: coleta de sangue para dosagem de glicemia, intubação, drenagem de tórax entre outros.
- Alteração da flora bacteriana, uma vez que, durante a internação, os recém-nascidos são colonizados por bactérias do ambiente hospitalar, muitas vezes resistentes aos antibióticos e altamente virulentas. O que nos leva a repensar sobre qual é o melhor ambiente para se nascer.

Diante destes alertas da ANVISA fica claro que a cesárea não é de forma alguma a decisão mais adequada para a resolução de gestações com bolsa rota sem alteração da vitalidade fetal. Para ficar mais claro o risco da cesárea para o recém-nascido segue alguns dados:
- O cálculo da idade gestacional no Brasil é feito a partir da data da última menstruação, porém a fecundação só ocorre 14 dias após esta data que é quando há a liberação dó óvulo, ou seja, nossos cálculos têm um erro fixo de duas semanas, sendo assim um bebê com 37 semanas de gestação na verdade tem apenas 35 (mais um motivo para não realizarmos cesárea de data marcada).
- Grande parte das cesáreas eletivas é feitas de bebês prematuros, fazendo com que tenham baixo peso ao nascer, menor defesa imunológica e que como consequência precisem de procedimentos invasivos. 

Então agora você já sabe que a bolsa rota NÃO é indicação de cesárea e que você tem pelo menos 24h seguras para esperar que o seu trabalho de parto ocorra naturalmente e, caso você esteja muito decidida não se sinta só, na literatura encontramos períodos de espera que vão de 12h até 96h, mas se mesmo assim se sentir só... Entre em contato conosco, somos uma equipe de 5 obstetrizes prontos para ajudá-la!

Referências:
ANVISA. Pediatria: Prevenção e Controle da Infecção Hospitalar – Infecções Hospitalares em Neonatologia. Editora ANVISA, Brasília, 2006. p 39-62.
SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE. Prefeitura do Município de São Paulo. Áreas Técnicas da Saúde da Mulher e da Criança e Assistência Laboratorial. Disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/saude/arquivos/mulher/Prot_estreptococo_B.pdf.