sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Pé, meu querido pé!



Há duas semanas, o Secretário de Saúde de SP anunciou a ampliação do teste do pezinho para todo o território nacional, teste este que em geral é realizado no Hospital antes mesmo da mãe e do bebê receberem alta, mas a questão é... Alguém já te explicou para que serve?
            O Teste do Pezinho, também chamado de Triagem Neonatal, é um exame simples, rápido e hoje garantido por lei em todo o território nacional. A realização do exame é muito simples e consiste na coleta de gotinhas de sangue retiradas do calcanhar do bebê. O grande "Q" deste teste é que ele é capaz de detectar precocemente doenças genéticas, do metabolismo e infecciosas que podem afetar o desenvolvimento do bebê, doenças estas que sendo diagnosticadas muito cedo podem ser tratadas minimizando os impactos sobre a vida deste novo "ser" tão importante.
            Na maioria das maternidades, o exame é coletado quando o bebê completa 48h de vida, porém pode ser coletado em laboratórios externos idealmente na 1° semana de vida.
            Hoje, o Teste do Pezinho é capaz de identificar até 48 patologias, porém o mais realizado é o teste capaz de identificar 6 até 8 patologias tratáveis, são elas:

Fenilcetonúria = É uma doença genética que é causada pela falta de uma enzima que transforma um aminoácido, presente em algumas proteínas, em uma forma que o fará componente das proteínas dos seres vivos. Quando não ocorre esta transformação, a enzima é acumulada e pode afetar o cérebro. Essa doença ocorre 1 vez a cada 10.000 nascidos. O tratamento é através da exclusão da Fenilalanina da dieta, este tem tido bom prognóstico para o desenvolvimento, principalmente quando iniciada antes de 3 semanas de vida. E antes que alguém diga: Ahhh, minha alimentação é super saudável... Vai à informação, nenhum tipo de dieta grupal está imune da Fenilalanina, seja carnívora, vegetariana ou até mesmo vegana. Segue o exemplo de alguns alimentos ricos em Fenilalanina: feijão, lentilha, grão-de-bico, soja, carnes, aves, peixes e frutos do mar, ovos, leite e derivados, leite materno ou fórmula infantil,arroz, beterraba, cenoura, tomate, cebola, batata, brócolis, repolho, abóbora, abobrinha, berinjela, couve-flor, chuchu, almeirão, couve, maçã, mamão, abacaxi, banana, figo, laranja, maçã, manga, melancia, melão, pera e pêssego, entre outros. Ou seja,
Galactosemia = É uma doença genética causada pela deficiência de uma enzima responsável pelo processamento do açúcar contido no leite. Quando crianças com Galactosemia ingerem leite, ocorre o acúmulo de galactose no fígado, rins, cérebro e olhos prejudicando estes órgãos. Os sintomas incluem problemas de coagulação, icterícia (amarelão), hipoglicemia (baixa de açúcar no sangue), glicose na urina, excesso de glicose no sangue, excesso de acidez no sangue e catarata. Nestes casos, a criança não deve tomar leite ou substâncias que contenham lactose e galactose.
Deficiência de Biotionidase  = É uma doença genética causada pela deficiência de uma enzima que reaproveita uma vitamina chamada biotina encontrada em leveduras, arroz integral, nozes, leite, carnes, frutas e ovos. A falta desta vitamina pode resultar em convulsões, fraqueza muscular, erupções da pele, queda de cabelo, acidez no sangue e deficiência imunológica. O tratamento é baseado na introdução de altas doses desta vitamina.
Anemia Falciforme = É uma alteração, herdada dos pais, que afeta as células do sangue modificando sua forma. Se o recém-nascido tiver herdado um gene de anemia da mãe e outro do pai, ele não apresenta sinais de doença porque nasce com uma quantidade de hemoglobina fetal aumentada que age contra os efeitos da hemoglobina alterada; neste caso é considerado doente já sendo confirmada a Anemia Falciforme. Se o recém-nascido tiver herdado o gene de apenas um dos pais ele será considerado um portador. Nos primeiros 6 meses de vida não apresente sinais, após pode apresentar anemia, icterícia, dores ósseas, articulares e abdominais, infecções de repetição, sintomas similares aos que são diagnosticados com a anemia falciforme ; em geral, este tipo de portador permanece assintomático durante toda a vida e o diagnóstico só virá a ser feito com exames de laboratório. O recém-nascido está protegido contra as manifestações clínicas da anemia falciforme até os 6 meses, pela presença de hemoglobina fetal. Existe necessidade de acompanhamento médico para todo o doente de anemia falciforme. O traço falciforme NÃO é doença.

Glicose 6-Fosfato Desidrogenase (G-6 PD) = Esta é uma doença herdada geneticamente ligada ao cromossomo X e que, geralmente, atinge os homens. No Brasil, mais de 1% da população é portadora (acredite... 1% da 5° maior população do mundo é muita gente). Este é o distúrbio metabólico mais comum dos glóbulos vermelhos causado por alterações de enzimas que permitem a estabilidade da “parede” das células do sangue. Pessoas com esta doença podem apresentar anemia, icterícia e aumento do baço; alguns casos de crises agudas de anemia estão relacionados ao contato com alguns alimentos ou algumas substâncias químicas como a Aspirina. Se o bebê for assintomático, não é necessário tratamento, porém uma série de medicamentos deve ser evitada, conforme orientação médica, para evitar potenciais destruidores de células do sangue.

Hipotireoidismo Congênito = Esta é uma deficiência em dois hormônios (T3 e T4) produzidos pela glândula tireoide que se encontra na região do pescoço. Estes hormônios são fundamentais para a regulação da produção e do consumo de energia pelo organismo humano, além disso, atuam desde a fase uterina no processo de crescimento e desenvolvimento e na maturação do sistema nervoso central. Esta deficiência pode ser adquirida durante a vida por alterações auto-imunes, inflamatórias ou infecciosas e, também, antes do nascimento através de alterações genéticas, ambientais ou do próprio corpo da mãe. Para os bebês, esta disfunção pode levar ao prejuízo no crescimento da criança e a um retardo mental. Nas primeiras semanas de vida os sinais e sintomas são quase poucos, passando despercebido. Ocorre 1 caso a cada 4000 nascimentos, mas esta estatística aumenta para 1 a cada 2.000 nascidos em regiões carentes de Iodo. Quando diagnosticado no momento certo é facilmente tratado e controlado sem nenhum prejuízo para o crescimento e desenvolvimento da criança.

Hiperplasia Congênita da Suprarrenal = Este é um defeito na produção de hormônios pelas glândulas suprarrenais (que ficam acima do rim). Com esta deficiência, uma parte do cérebro um hormônio em excesso para estimular estas glândulas, com isso elas acabam aumentando e, na maioria das vezes, gera o aumento na produção dos hormônios que controlam a masculinização do corpo, sem compensar a falta dos hormônios que controlam o metabolismo da água e do sal do organismo. Esta doença é causada pela alteração ou mutação de genes que controlam o funcionamento de cada enzima que regula a produção de hormônios. Esta doença pode levar à masculinização da criança, além de provocar vômitos e desidratação, com perda de sal e água. Este é o diagnóstico mais complicado de ser feito, por isso os casos suspeitos devem ser avaliados precocemente.

Toxoplasmose = Esta é uma doença causada por um parasita que habita o intestino dos gatos, onde se multiplica. Em outros animais este parasita é capaz de formar cistos nos músculos, cérebro, retina entre outros órgãos, mas não consegue completar seu ciclo de vida. O maior transmissor é o gato, mas qualquer animal pode ter os cistos em sua musculatura e ao comer carne crua ou frutas e verduras que não foram bem lavadas, o ser humano pode adquirir a Toxoplasmose. A mãe também pode transmitir para o seu bebê durante a gravidez, no geral isto ocorre quando a mãe se contamina e tem a doença durante a gestação. Para o bebê é algo extremamente sério, podendo gerar calcificações cerebrais, malformações e problemas na retina. A Toxoplasmose tem tratamento efetivo, mas este deve ser iniciado antes mesmo de alguma alteração clínica.

Agora que sabe a importância, lembre-se de buscar o exame e de levá-lo ao pediatra o quanto antes, todo o tratamento é mais efetivo quando iniciado precocemente.
Ahhh, no começo eu disse que em geral o Teste tem sua coleta realizada no próprio Hospital em que o bebê nasceu, mas não me esqueci daqueles que nasceram no conforto do seu lar. Para você que decidiu ter o seu bebê em casa (coisa linda de Deus), você pode realizar o Teste do Pezinho na APAE, basta levar a DNV preferencialmente até 0 10° dia de vida do bebê.
APAE - Rua Loefgren, 2.109 - Vila Clementino - São Paulo - SP - CEP: 04040-033. Entre em contato através do (11) 5080-7000.
Outros estados consultem através do http://www.apaebrasil.org.br/federacoes-estaduais.phtml.

Bibliografias:
ALBERT EINSTEIN. Gravidez e Bebê: Teste do Pezinho. Disponível em: http://www.einstein.br/einstein-saude/gravidez-e-bebe/Paginas/teste-do-pezinho.aspx
APAE BRASIL. Federações Estaduais. Disponível em: http://www.apaebrasil.org.br/federacoes-estaduais.phtml
APAE DE SÃO PAULO. Conheça os tipos de Teste do Pezinho da APAE São Paulo. Disponível em: http://www.apaesp.org.br/OQueFazemos/ParaAPrevencaoDaDeficienciaIntelectual/Paginas/testes.aspx
PORTAL DA SAÚDE SUS. Doença Faciforme. Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/texto/8441/848/doenca-falciforme.html


Por: Susana Souza Santos/Obstetriz.