quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Plano de Parto

Muito se fala nos grupos de gestação e parto sobre o assunto, mas afinal qual a importância do plano de parto?


O Brasil é o país campeão de cesáreas, além disso a maioria dos partos normais hospitalares são totalmente intervencionistas, cercado de violência obstétrica e procedimentos desnecessários. Nesse contexto surge o plano de parto, com a função de tornar formal todos os desejos do casal com relação ao nascimento, e além disso gerar uma reflexão pessoal sobre como será essa experiência e que tipo de parto você deseja para si mesma.
      
Assim como planejamos coisas simples e pequenas durante o nosso dia-a-dia é muito impo rtante pensar em um plano de parto, isso ajuda a tomar decisões mais conscientes e a procurar o caminho certo para conseguir parir de forma digna e respeitosa.
        
O plano de parto também é uma boa forma de testar o profissional que irá acompanhar seu parto, questione ele durante uma consulta, se ele se recusar a ler o documento ou assiná-lo CUIDADO! Você pode estar lidando com um cesarista nato.

Semana passada saiu uma reportagem no site do UOL Mulher (para acessar a matéria clique aqui), onde a Obstetra Flávia Fairbanks se diz contra ao plano de parto, segundo ela esse tipo de ação tira a liberdade do profissional, afinal quem toma a decisão final é sempre o médico.
       
Com base nisso me pergunto: quem precisa de liberdade durante o trabalho de parto e parto é o profissional ou a parturiente? Será que o médico é tão soberano que não se dá ao trabalho de saber qual é o desejo daquela gestante? A opinião médica é tão absoluta que não se pode discutir sobre o assunto? Buscar outras alternativas?
       
Se o mundo continuar pensando somente nos seus valores enquanto profissional, se esquecendo que a mulher tem voz, tem autonomia, que pode sim se informar e querer um parto da maneira como planejou e o mais importante disso: que o nascimento é um processo NATURAL, repitam comigo: NA-TU-RAL, a realidade obstétrica nunca vai mudar.
       
Por isso, se empoderem, façam seu plano de parto e coloquem nele todos os seus desejos, essa é a melhor forma de dizer ao mundo: "eu me informei e sei que posso parir respeitosamente!"

Precisa de ajudar para elaborar o seu plano de parto? Fale com o Jesthar.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Um amor em “Si” maior.





              Há alguns dias, estava eu voltando para casa em um ônibus superlotado, como não poderia ser diferente em São Paulo, e me deparei com uma gestante passando a mão em sua barriga e conversando com o seu bebê, a qual - ao terminar o assunto da discussão do enxoval com ele - começou a cantar, bem baixinho, músicas direcionadas ao filho.  Obviamente, alguém lançou um: “Eu hein, parece doida, falando com uma barriga e cantando ainda como se a criança entendesse o que é música”. Por isso decidi escrever este post explicando um pouco sobre relação música-feto para que todas saiam cantando por aí sabendo o quanto estarão se beneficiando com isso.
               
                O sistema auditivo dos fetos começa a se formar bem cedo, ainda na 15° semana de gestação, porém se torna funcional em torno de 25° e 29° semanas. A partir deste período, sons intensos são capazes de resultar em mudanças nos batimentos cardíacos, pressão sanguínea, respiração entre outros aspectos no feto. Os seres humanos são capazes de ouvir uma variedade de sons três meses antes de nascer, o sistema auditivo continua a amadurecer nas semanas que antecedem o nascimento e a se desenvolver nos primeiros anos de vida. Ainda dentro da barriga, o bebê é capaz de conhecer a voz materna, músicas e sons comuns ao ambiente.
                No 5° mês de gestação as vias auditivas já estão maturadas, possibilitando que o bebê apresente reações aos sons e para o melhor desenvolvimento deste sentido devemos estimulá-lo desde então. Uma pesquisa realizada na Universidade da Carolina do Norte mostrou que bebês guardam em sua memória músicas e histórias que foram repetidas nos últimos três meses de gestação, além de diferenciarem a voz materna da de outras mulheres.
                Com isso é possível reafirmar que o vínculo entre mãe e bebê pode ser iniciado muito antes de se conhecerem pessoalmente. Uma pesquisadora de Canto Popular no Brasil afirmou, através de suas pesquisas, que enquanto a mãe ouve música a atividade cerebral fetal aumenta e o vínculo entre mãe e bebê se fortalece. Além disto, a frequência da música faz o bebê reconhecê-la após o nascimento, o que o faz lembrar-se do útero e se sentir mais seguro.
                Mas a música não é boa só na gestação, ela ainda pode ajudar muito durante o trabalho de parto e parto, uma por auxiliar no relaxamento da mãe, criando um ambiente confortável para ela e outro por mostrar ao bebê que ele está no mesmo ambiente que esteve durante a gestação. Além disto, cantar faz com que haja liberação de endorfina, o anestésico natural do corpo, daí a importância da música ser de escolha da gestante, para que ela possa entrar nesta sintonia também. Uma pesquisa publicada na Revista de Enfermagem da USP mostrou que mulheres que tiveram a gestação e o trabalho de parto acompanhado por música apresentaram melhores resultados no que se refere ao: peso ao nascer e Apgar, sendo maior nos bebês cujas mães ouviram música de forma constante durante a gestação. Neste estudo o depoimento das mulheres foi coletado e, em geral, se concentravam na questão do sentimento de segurança, de relaxamento e calma, como o seguinte:
“...eu tive a oportunidade de ter a música, o médico, meu marido,... (risos) tudo na mesma sala, no mesmo quarto. Então ... eu me senti supersegura.”

                Ainda neste mesmo estudo, os bebês foram acompanhados ao som de música por certo período do seu desenvolvimento e as mães relataram que diante a dor e desconforto os bebês se acalmavam ao ouvir música, principalmente aquelas as quais foram submetidos durante a gestação, trabalho de parto e parto.
                Sem dúvida a música, como tudo o que deixa a mulher calma, é uma grande aliada para o relaxamento durante o trabalho de parto e parto, além de uma enorme aliada para o vínculo entre mãe e bebê.
                Então, de agora em diante, fique ainda mais tranquila para conversar com o seu bebê e cantar para ele onde quer que esteja afinal este vínculo pertence a vocês tão somente e ache estranho quem quiser ninguém além de você pode entender mais sobre o que é cantar “Um amor em Si maior”.

“Que a minha loucura seja perdoada. Pois metade de mim é amor e a outra metade também”. (Oswaldo Montenegro).


CARDOSO A.C.V. Reflexões sobre o desenvolvimento auditivo. Verba Volante. Vol 4, n°1. 2013. Disponível em: http://letras.ufpel.edu.br/verbavolant/sexto/archivos_sexto13/cardoso.pdf.
LINDNER L.B. O feto como ser ouvinte. CEFAC – Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica. Porto Alegre, 1999. Disponível em: http://www.cefac.br/library/teses/9a11156fd396244a7685611978945461.pdf.
STAHLSCHMIDT A.P.M.  A Canção do Desejo: Da voz materna ao brincar com os sons, a função da música na estruturação psíquica do bebê e sua constituição como sujeito.Tese de Doutorado. Faculdade de Educação – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2002. Disponível em: http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/77968/000370972.pdf?sequence=1
TABARRO C.S; CAMPOS L.B;GALLI N.O; NOVO N.F e PEREIRA V.M. Efeito da Música do Trabalho de Parto e no Recém-nascido. Revista da Escola de Enfermagem da USP. São Paulo, 2010. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v44n2/29.pdf>.

Por: Susana Souza Santos, Obstetriz pela Universidade de São Paulo. Ativista pelo Parto Normal e pelo Acesso ao Parto Digno para toda a população.